quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Crise social e económica gera oportunidade


O Fórum Social Mundial, em Belém do Pará, e o Fórum Económico Mundial, em Davos, concordaram em que o modelo capitalista está em crise, e que nos levou a enfrentar uma ameaça de recessão global.

Ambos os fóruns debateram possíveis rupturas radicais com o sistema e reformas dentro do modelo capitalista, mas não chegaram a nenhuma conclusão clara ou única, e as ideias apresentadas diluíram-se sempre em debates inconclusivos.

A pretensa qualidade dos integrantes de um, e a diversidade e quantidade dos participantes do outro, não lhes permitiu apresentar alternativas ao paradigma actual, aliás completamente esgotado. Nem sequer para a substituição da cultura do consumo pela cultura da solidariedade. Tampouco para a liderança do processo de mudança, nem a nível institucional, nem pessoal.

Também, nada se decidiu sobre o papel dos indivíduos e das organizações, nem dos estados e dos entes supranacionais. Parece que este debate ainda está no seu início, porque não há ainda um modelo proposto, estudado e provado, para substituir os sistemas falidos que existiam - capitalismo e socialismo, e os seus derivativos.

Mas não podemos nos sentar tranquilamente à espera que nos apresentem uma solução viável, porque o caminho se faz é caminhando, não é esperando.

É que, entretanto, a globalização mostrou que (1) a Democracia não é panaceia para a crise, assim como revelou (2) a inutilidade da tentativa de se “socializar” os prejuízos financeiros através da nacionalização dos bancos e seguradoras, e até (3) a falácia dos empréstimos e garantias dos Governos às empresas nacionais do sector financeiro, tentando convencer o povo de que o dinheiro dos favores governamentais seria repassado à economia!

De facto, é iníquo obrigar os cidadãos a manter as responsabilidades assumidas perante o sistema financeiro quando este mesmo sistema alardeava segurança e solidez, tornando-os reféns do sistema e, hipocritamente, ao mesmo tempo se escamoteia que os bancos e as seguradoras estão apenas tentando, eles mesmos, não afundar no mar de lama que eles próprios criaram - corrupção, má gestão, ganância, quadrilhismo, consumismo, alienação e perdição.

Na realidade, estamos perante uma grande crise de valores, geradora da falta de confiança, porque alicerçada em “lideranças” escusas, em “encomendas” de relatórios e estudos amparadores da bondade das “escolhas” dos maus empresários e dos politiqueiros de turno.

Na prática, o fundamentalismo democrático só tem servido para “justificar” guerras e violência à escala global, regional e local. E, também, para trocar a meritocracia pela mediocridade, conferindo “legitimidade” à conquista do poder pelo poder, e “representatividade” da Sociedade aos aparelhos políticos e corporativos, colocando o Interesse Público aos pés de grupelhos organizados para a conquista do poder a qualquer preço, e para benefício próprio.

No discurso, fala-se em excelência mas persegue-se quem tem qualidade. Fala-se em seriedade mas abre-se portas e janelas a todas as fórmulas aéticas geradoras de corrupção activa e passiva.

Esquece-se que o sistema económico e financeiro deve existir para promover o Desenvolvimento económico, social e político Humano, e promove-se uma profusão de números e estatísticas que se pode manipular em conformidade com as dificuldades em conseguir mostrar um qualquer crescimento - da diminuição do desemprego, das indústrias, do comércio, das pescas, da agricultura e da pecuária, e até do ranking-país.

Em vez de Educação gasta-se dinheiro em formação. Em vez de preparar o Futuro desperdiçam-se as vontades com ilusões de óptica. Em vez de Objectivos comuns criam-se divisões.

Na falta de Instituições faz-se profissão de fé na expectativa do seu funcionamento. Na falta de Políticas resolve-se por casuísmos. Na falta de um Rumo para o País navega-se à vista.

Por todas essas razões, e muitas outras que todos conhecem porque os diagnósticos estão todos feitos, instila-se desconfiança, em todas as suas formas, nos corações e na alma do povo.

Ora, se não há confiança não há esperança. E a resultante é o cansaço, é o estar farto de ser serviçal desse constante desgoverno, é o desalento, a depressão, o abandono, a demissão, o conformismo, a humilhação, é a hora do vestir do pijama para quem pode, e da dependência definitiva para todos os outros.

É a fuga, ou a emigração, dos sobreviventes desta hecatombe dos desprotegidos do sistema, isto é, da esmagadora maioria dos cidadãos.

É a desestruturação da Família, da Comunidade, da Sociedade Civil. É o momento de se apelar à solidariedade!

É o medo, a insegurança, a perplexidade das pessoas comuns face aos atalhos para a falsa alegria que os seus condutores adoptam.

Substitui-se o “nós podemos” pelo “eu vou ver se escapo”!

Em vez de se construir uma vida procura-se sobreviver. Troca-se a Felicidade pela euforia.

Vive-se à corrida. Não há Sabedoria, há só rapidez, vidas fugazes e vazias. Porque não existem modelos recentes para seguir, e os paradigmas de ontem, já todos caíram.

Não há Liderança, mas também não há espírito de Missão, e muito menos Visão. Por isso não se pensam políticas para desenvolver a Humanidade, logo, não podem existir planos nem projectos, e não se criam empregos, e não se produzem alimentos, nem se cria lugar para a Esperança.

Em vez disso, tiram-se as pessoas do seu ganha-pão mas colocam-se “em formação” para o resto das suas vidas ocas. Passam-se diplomas e colocam-se as pessoas nos centros de emprego - eufemismo para desemprego. Cria-se cada vez maior subsídio-dependência e, assim, distorce-se cada vez mais a tal economia de mercado que se defendia ser a solução para todos os males.

Prega-se a igualdade de oportunidade, mas há sempre alguns poucos mais iguais do que a maioria! Prega-se a justiça, mas grassa a iniquidade!

E quem vai pagar toda esta incompetência? Você e eu?

Quem fabrica o dinheiro para sustentar esta canoa furada? A União Europeia? Os EUA? O Japão? Mas com quais recursos? Ou serão os países ditos de economia emergente, o Brasil, a Rússia, a Índia, a China - os BRICs? E como estes financiarão a resolução dos problemas deles? Com os dólares americanos ou os euros europeus? Mas essas moedas são só papéis! Só valem aquilo que nós concordarmos que elas valem, isto é, não valem nada, nem se podem comer!

Vamos então voltar a incrementar a indústria da guerra, e colocar os povos subjugados a trabalhar de escravos para nos alimentar? E tomarmos os seus recursos energéticos para nos mantermos? Vamos inventar uma qualquer nova “ideia” para servir de base à predominância do interesse da nossa barriga, e provocar novas hecatombes para reduzir o número daqueles que ainda têm algo para comer?

Será que ainda não percebemos que o tempo da cigarra acabou, e que agora há que trabalhar mais duro do que a formiga? Será que não vemos que a rapidez da lebre não leva a lugar nenhum, e que, qual tartaruga, temos de acumular entendimento, conhecimento e sabedoria, que só se conseguem com a experiência, para chegarmos longe com passos seguros?

Oiça meu irmão, eu não me conformo com nada disto. Eu não quero perder o foco. Eu não me vou deixar arrastar pela mentira negativa da crise e do caos. Eu quero caminhar com passos de mestre, nos caminhos da verdade e da vida, e alcançar a vitória final.

Oiça meu amigo, eu quero amar os meus irmãos pretos, brancos, amarelos, vermelhos, de todas as cores, de todos os credos, de todas as raças, de todas as línguas; homens, mulheres e crianças, crianças e velhos, gordos e magros, ricos e pobres, altos e baixos, todos eles, os que sofrem de qualquer deficiência e os que abundam em porte atlético, os loiros, os morenos, os ruivos, os carecas; em todas as terras, em todos os continentes.

Mas amar é servir!

E a responsabilidade do líder é de servir melhor, sempre, sem desfalecer, todos os dias. É a de ter a visão da oportunidade que a crise nos dá para salvar o nosso mundo. É a de assumir a missão de tornar uma utopia em realidade. É a de saber fazer escolhas, definir políticas, fixar objectivos, motivar pessoas, gerir recursos. Porque a obra a fazer é grande, e o tempo não nos pertence.

Ouve meu irmão, meu amigo, despe o teu pijama, levanta a cabeça, pega a tua ferramenta seja ela qual for, dá-me a tua mão, vem, junta-te a nós. Vem construir um novo País.

Vem Recuperar Portugal!

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